27/11/2008

O Amor, de Maiacovski.

"Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zoo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, há de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o enxame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo cotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Pra que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que ao primeiro apelo: _Camaradas!
atenta se volte a Terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que
Doravante
a família
seja
o pai,
pelo menos o Universo;
a mãe,
pelo menos a Terra."
.
Maiacovski, Rússia, 1923.
(Antologia Poética. Trad. E. Carrera Guerra. São Paulo, Max Limonad, 1983)

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